"Vida e Arte do Povo Português", obra editada em 1942

«Pastor de Monsanto» e «Trabalhos de filigrana»

"Vida e Arte do Povo Português"

"Acabamos de compulsar, demoradamente, um livro que dentro de pouco tempo será acessível à curiosidade do público, e que tem este título: Vida e Arte do Povo Português.

A Edição é da Secção de Propaganda e Recepção (S.P.N), da Comissão Nacional dos Centenários.

Um belo livro? Um livro maravilhoso?

Cuidado com esta tendência muito nacional para exprimir superlativamente as impressões estéticas, sobretudo as positivas!

Gostamos duma coisa por ela ser simplesmente bonita, e vamos logo ás do cabo, chamando-lhe linda.

Daí, a relutância em aplicarmos ao livro Vida e Arte do Povo Português o segundo adjectivo que nos ocorreu: maravilhoso. Não será demais?

E folheámos o livro novamente... Não é. Maravilhoso, neste caso, não é demais.

Considerado com espécime de artes-gráficas, este livro não é mais nem menos do que isso.

Cada página que se volta, cada surpresa que nos encanta.

Estão ali arquivados, em rigorosa documentação fotográfica - obras-primas de Mário Novaes - e em desenhos de sóbria estilização, nos quais o artista - Paulo Ferreira - se esforçou por respeitar a autenticidade da forma e do colorido, os mais característicos e belos exemplares da nossa arte popular.

Vejamos o índice da obra:

O Trajar do Povo, Luiz Chaves;

Teares e tecedeiras, Sebastião Pessanha;

Artes dos Namorados, Luiz Chaves;

Barcos de Portugal, Rocha Madahil;

Arte Popular, Luiz de Pina;

Bordadoras e Rendilheiras, Maria Madalena de Martel Patrício;

O Carro Rural, Vergílio Correia;

A Faina do Campo, Guilherme Felgueiras;

Pastoreio e Arte Pastoril, Tude de Sousa;

Luminária Popular, Cardoso Marta;

Festas do Calendário, Padre Moreira das Neves,

Danças e CantigasArmando Leça;

O Fogo de Vistas, Armando de Matos,

Oleiros e Olaria, Santos Júnior;

Bonecos de Barro, Santos Júnior;

Ourivesaria Popular, Luiz Chaves.

Se não é tudo, é muitíssimo.

E abstraindo dos valor literário e documental dos artigos - sobre os quais se pronunciarão, a seu tempo, os críticos especializados - quem folheia este livro e observa, uma a uma, as gravuras que o ilustram, não pode (seja português ou estrangeiro) ficar insensível à extraordinária riqueza e variedade de motivos etnográficos e folclóricos que perduram, íntegros, no nosso país.

É este o aspecto que António Ferro salientou nas breves palavras que prefaciam o livro, cujo conteúdo demonstra - como ele diz - «que a nossa arte popular, simultaneamente realista e poética, é a permanência da nossa história viva através dos séculos, o seu alfabeto de imagens».

A obra foi planeada pelos etnógrafos Francisco Lage e Luiz Chaves, de colaboração com o pintor Paulo Ferreira, que ilustrou e dirigiu, artisticamente, a edição - executada na Litografia Nacional do Porto."

Trajes Portugueses



Barcos Portugueses

In "Panorama", nº9 - Junho de 1942  (texto editado e adaptado)

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