Armando Leça, um compositor nacionalista

Armando Leça (09.08.1893 - 20.01.1977)

Armando Leça

(9.08.1893 - 20.01.1977)

«Armando Leça, inspiração musical puríssima, que Lisboa e Porto já conhecem e que em Leça da Palmeira se esconde, na prática de seus estudos, no recolhimento contemplativo da sua Arte, modelada nas tendências na época, cheia de harmonias deliciosíssimas, de colorido, de doçura, de melodia, de lirismo, é para nós, que religiosamente o ouvimos, e para todos que o rodeiam, o poeta da música, ténue e sereno, impregnado de nacionalismo e de regionalismo, não abastardando o sentimento na tentação das escolas deformadas, nem sacrificando o carácter puríssimo da sua obra, já extensa, a popularidade, a celebridade falsa do seu tempo.» Norb. de Araújo.

Armando Leça foi dos nossos compositores, um dos primeiros que se arreigou à realização da "Canção Portuguesa".

Outros, logo se apressaram na publicação das suas canções.

Armando Leça ocultou-se, pondo-se então a jornadear ao longo do seu país; escutando o melodismo da sua raça; apreendendo as modalidades regionais; expondo eruditamente em jornais e revistas da especialidade: como canta e baila a gente portuguesa.

Por isso foi o último a imprimir suas "Canções dum Português", nas quais a "genial raça das redondilhas" depara com o intérprete escolhido da sua "religiosidade", do seu "apego natal", da sua "gaiatice", do seu "embalar" sempre tristonho, do seu foliar nas "fogueiras" de Junho.

A "Canção de Coimbra" composta para as tricanas, por elas cantada e bailada, já o Mondego a tem ouvido; quanto à "Serenata", apetece ouvi-la, nas nossas meridionais noites luarentas.

Armando Leça é hoje para a música o que foi Júlio Dinis para a literatura, sob o ponto de vista do regionalismo. Almas gémeas no talento e no ideal, apesar da distância no tempo, a obra dum vem agora completar a obra do outro!».

Que no seu recolhimento de Leça da Palmeira, onde se esconde, o artista consagrado do "Cântico das flores", "Canções Líricas", "Filigranas", "Azulejos", "Tese regional" e das "Canções dum Português", continue na sua doirada obra de nacionalismo musical, "para sua honra e glória da Arte Portuguesa!"




in "Ilustração Portuguesa", nº794 – 1921  (texto editado e adaptado)

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