Em defesa dos Trajos Regionais e Tradicionais
Mulher dos arredores de Viana do Castelo - cerca de 1909
Em defesa dos Trajes Regionais e Tradicionais
Infelizmente, isto está longe de acontecer com diversos Grupos de Folclore, de Norte a Sul do País, nas Regiões Autónomas e nas Comunidades de Portugueses espalhadas pelo mundo.
Felizmente, também há muito Grupos de Folclore que se prezam em apresentar com autenticidade os trajos da respetiva região, independentemente dos tecidos, dos cortes, dos adereços, etc., que possam ou não ser menos vistosos, coloridos ou “ricos” relativamente a outras regiões.
No âmbito do trabalho de pesquisa realizado pela Equipa do Portal do Folclore Português, encontrámos um artigo de opinião da autoria do Sr. Álvaro V. Lemos, escrito em Março de 1924 e publicado na revista ALMA NOVA (nº16/18 – Abril – Junho de 1924), intitulado «Os Trajos Regionais».
Com a devida vénia, transcrevemos os parágrafos que nos parecem mais interessantes…
«(…) Entre nós, vão desaparecendo os trajos locais, mesmo das mais recônditas aldeias, e, ainda para cúmulo, morrendo da forma mais desastrada e eficaz, - envolvidos num conceito ridículo a que ninguém tem coragem de resistir.
«(…) Entre nós, vão desaparecendo os trajos locais, mesmo das mais recônditas aldeias, e, ainda para cúmulo, morrendo da forma mais desastrada e eficaz, - envolvidos num conceito ridículo a que ninguém tem coragem de resistir.
E, em poucas terras, como na nossa, se teme tanto o ridículo! O carnaval já se apoderou deles e, quem diz carnaval, diz consagração do ridículo.
A vaidade e a ambição, tão geral também entre nós, de se querer parecer sempre o que se não é, são também uma das causas desta rápida transformação e degradação.
Toca a camponesa ou tricana quer parecer senhora, todo o rústico ou marçano quer parecer fidalgo.
Desaparecem, na mulher, a chinela, o lenço, o avental, para darem lugar ao sapatinho citadino de salto altíssimo e ao custoso chapéu de fitas e flores, ou, quando a tanto se não aventuram, à simples écharpe e chalé de oito pontas.
No homem a blusa, a saragoça, a carapuça e o vareiro vão morrendo às mãos das gravatas de seda, das casimiras e dos finos feltros.
A vaidade e a ambição, tão geral também entre nós, de se querer parecer sempre o que se não é, são também uma das causas desta rápida transformação e degradação.
Toca a camponesa ou tricana quer parecer senhora, todo o rústico ou marçano quer parecer fidalgo.
Desaparecem, na mulher, a chinela, o lenço, o avental, para darem lugar ao sapatinho citadino de salto altíssimo e ao custoso chapéu de fitas e flores, ou, quando a tanto se não aventuram, à simples écharpe e chalé de oito pontas.
No homem a blusa, a saragoça, a carapuça e o vareiro vão morrendo às mãos das gravatas de seda, das casimiras e dos finos feltros.
*
Ora, o que é verdadeiramente ridículo e grotesco, é vestir uma pele de uma civilização que se não possue. Tudo então é exterioridade, verniz para deslumbrar, para enganar.
Mas, semelhante verniz, por mais brilhante que seja, é sumamente estaladiço e deixa ver o original, que encobre, ao mais simples gesto, palavra ou proceder, a não ser que se seja um consumado actor.
*
O trajo é, portanto, mais um ramo, embora modesto, mas interessante, do já tão desfalcado património nacional, que temos de defender para que se não vá cavando, mais funda ainda, a nossa desnacionalização.
Precisamos restaurar, reabilitar em cada terra, em cada província, os antigos trajos, os antigos costumes que sejam compatíveis com os tempos atuais.
Defendê-los de todo o ridículo, aconselhar, propagar a sua adoção, fazê-los cercar de carinho e simpatia por parte das pessoas de gosto e de elite.
Fazê-los usar, como já é costume em alguns países, pelos serviçais e empregados das nossas casas e estabelecimentos, o que seria bem mais democrático e simples e ao mesmo tempo mais nobre e digno que as toucas hospitalares ou as librés agaloadas e de botões doirados que tanto se comprazem em ostentar.
Cada um deve ter orgulho da sua terra, da sua pátria e não se envergonhar de trazer consigo, ostensivamente mesmo, as insígnias características da sua região.
Promovam-se festas regionais, retrospetivas, concursos, certamens, prémios, compromissos de usar trajos nacionais, entusiasmem-se os novos no amor das nossas tradições, repare-se tudo quanto é suscetível de atualização, e o turismo não perderá entre nós mais este pitoresco atrativo.
Março de 1924
Álvaro V. Lemos»
Escrito há quase cem anos [2022], este texto (editado e adaptado) ainda hoje nos pode ensinar muito.
Atente-se no teor dos dois últimos parágrafos, embora conscientes de que o uso dos trajos regionais se deve restringir aos Grupos de Folclore e não para serem usados habitualmente!
Sugerimos a leitura de um documento elaborado e distribuído pela Federação do Folclore Português, há já alguns anos, e intitulado:
no qual são abordados alguns aspetos relacionados com os Trajos.
A Equipa do Portal do Folclore Português