Na romaria da aldeia (versos populares)
Na romaria da aldeia
Como és linda,
ó camponesa,
Quanto tão meiga sorris,
E os dentes mostras de aljôfar,
Engastados em rubis!
Que lindos são teus cabelos,
Para mim prisões subtis!
Serei tudo
quanto queira.
Sim, senhor, é como diz.
Não podes crer
que te adoro,
Por ver-me ainda assim tão moço?
Por dizer-te quanto sinto
Se ocultá-lo eu já não posso?...
Não vês que olhar-te um momento
Me causa tanto alvoroço?
Vejo, vejo;
bem te entendo...
Stás gordo... tens cada osso!...
Não fica bem o
motejo
Nessa boca tão formosa!...
Nem um beijo me concedes
Nessa face cor-de-rosa?
Diz que sim!... que te custa?...
Não sejas tão desdenhosa!...
Se lhe deixo
dar um beijo?
Ai... deixo que sou briosa!
Não deixas,
não, que tu foges,
Zombar de mim só quiseste;
No teu «sim» tão gracioso
Noutra ideia não tiveste;
Nem doutro modo faltaras
À palavra que me deste!...
Pois eu
fiz-lhe essa promessa
Faria... pois não fizeste!
Não peço mais,
que um amante
Enfastia quando abusa;
Mas eu sei que esse melindre
Nas aldeias ninguém usa:
Diz-me como é que te chamas?
Para isso não recusa!
Inda não
sabe o meu nome?
Pois olhe, chamo-me Escusa.
Já que me
desprezas!
Não tens dor de quem padece:
Mas o fogo que me escalda
Inda assim não arrefece;
P'ra ser por ti adorado
Dava tudo o que tivesse!
Ora vês
tu!... que fortuna,
Pela tarde me aparece!
Uma impressão
tão ardente,
Meu peito jamais sofreu!
Não encontrarás no mundo
Um amor igual ao meu;
Vou dar-te um coração puro,
Aqui o tens... é só teu.
Ai... pois
não. Marianinha;
Toma lá, que te dou eu!
Diz - eu
amo-te! Isto basta
Para eu não ser desgraçado;
Vou abraçar-te e beijar-te,
Vou assentar-me ao teu lado,
Jurarei ser teu esposo,
Oh, mu anjo idolatrado!
Ai... sabe o
senhor que mais,
Adeus... temos conversado.
E podes, sendo
tão bela,
Ser mais dura que um penedo?
Deixas-me triste, chorando,
À sombra deste arvoredo?...
Foge, sim, que é muito jovem...
Falei-te de amor bem cedo!
Ai... não
que o gato escaldado,
'Té de água fria tem medo!
Ignotus