Máquina de costura (de brincar)
Máquina de costura (de brincar) |
Como se tem
dito em outros momentos, os meninos brincam desde que nascem: com as mãos, com
os pés, com a mama, com o que calha; para crescerem interiormente, para viverem
em equilíbrio físico e psicológico.
Com o tempo,
vão-se definindo os gostos pelos brinquedos e pelas brincadeiras, em função das
caraterísticas culturais, económicas, sociais de cada qual.
Antigamente,
mais do que hoje, o sexo também influía nos gostos individuais.
A bola
trapeira, a bilharda e o pião não poderiam ser jogos de meninas, que estas exigiam
mais tranquilidade e sossego. As
pedrinhas, a macaca, o bate-e-foge cabiam melhor nos conceitos de então.
E a preparação
do futuro também: as bonecas de trapos, os jantarinhos com o arroz-dos-telhados
e as folhas de oliveira, as panelas e mobílias de bugalhos, os trabalhos de
costura fundamentais na vida de todos os dias.
Ao tempo, os
brinquedos de menino não se compravam – faziam-se, que os materiais abundavam,
viviam ali sempre à mão e o tempo e a habilidade estavam garantidos.
E ninguém sabia
qual era mais gostoso: se o tempo da construção, se o da fruição.
Nas famílias de
mais teres, porém, havia outras regras. Em dias assinalados da roda do ano, uma
prendinha era garantida: automóvel de lata, simples ou de corda, soldadinhos de
chumbo, serviço de jantar, máquina de costura.
É uma destas
peças que escolhemos este mês: não uma máquina de lata, simples, embora muito desejada, mas uma outra, de
metal mais forte, capaz de se desembaraçar dos trabalhos numerosos e complexos
para uma família inteira, pois as meninas começavam cedo a preparação da sua
futura condição de fadas do lar.
Fonte: Museu de Silgueiros (texto
editado e adaptado)