ABC do Folclore – Manual de Iniciação (4)
«O Moleiro» Vila Chã - Beira Alta(«Cliché» de Francisco Guilherme Lacombe Neves) |
Etnografia
Desde sempre
existe quem considere “etnografia” como sinónimo de “trajos usados no
folclore”, e a Federação considera-a como a “disciplina que descreve os povos/comunidades no que concerne aos seus
usos, costumes, índole e cultura”.
Mas se há
situações em que se respeitam diferentes conceitos, em meu entender estas não o
são.
Sendo o
folclore “a expressão das vivências das gentes de antigamente, no tempo em que
a sua vida ainda não era tão influenciada pelos usos costumes de outros povos”,
a “etnografia” é única e precisamente “o estudo do folclore”, como aliás o
citam diversos dicionários.
Recordo-me que,
procurando saber a visão que outros colegas destas andanças tinham de assuntos
que considerava pouco clarificados, coloquei a seguinte questão:
Se estiver um
“grupo” a actuar, onde está o folclore e onde está a etnografia?
E a resposta
que me convenceu (Aurélio Lopes) foi: depende do Grupo.
O produto
(aquilo que apresenta ou representa) pode, em termos otimizados, ser tudo
folclore. Ou ser só uma parte. Ou até, não ser nada.
Etnografia não é um produto
Quanto à
Etnografia, não “vemos” nada, em nenhuma circunstância.
Isto porque a
Etnografia não é um produto, não é um conjunto de padrões ou de elementos
culturais, mas simplesmente uma técnica ou um conjunto de técnicas de que fazem
parte as entrevistas que se fazem aos informantes, a observação direta e outras
que aqui não referimos para não confundir mais.
Não é um
produto! Não é aquilo que se representa, melhor ou pior.
É a metodologia
de pesquisa de um de que o grupo se serviu para obter os dados que está a
apresentar na dita autuação.
E porque
considero que “tradição” nem sempre significa “tradicional”, acrescentava: e a
“tradição”, onde está?
E também aqui a
resposta é igual à do “folclore”: pode ser tudo, ou só uma parte, ou até não
ser nada.
“Porque a
vertente tradicional é uma das componentes daquilo a que chamamos Folclore“.
Dito de outra forma, a cultura popular que consideramos folclore tem de ser tradição, tem de ser tradicional.
Pois só a tradição permite a usualidade e só a usualidade
permite a aculturação/folclorização dos padrões culturais.
Temos assim que
o tradicional é sempre popular, mas o popular nem sempre é tradicional.
Lino Mendes
Imagem: "Ilustração Portuguesa", nº730 - 16 de Fevereiro de 1920