A ponta de um corno, ou, como o povo tudo aproveita!

A ponta de um corno

Segundo Lavoisier (*), o grande pensador francês, “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.

O povo português nunca estudou Lavoisier, mas sabia, pela sua forma de ser e de viver, aplicar esta lei no dia-a-dia.

O seu engenho, aguçado pelas necessidades, habituou-o também a aplicar o conhecido adágio: “Guarda o que não presta e terás o que te é preciso”. Assim, nas suas mãos, nada se perde, mas tudo se aproveita.

Os exemplos vêem-se por aí todos os dias.

Mas hoje, queríamos falar do corno, do corno do boi, uma peça cheia de préstimos, habitualmente, para transporte de líquidos, segundo o seu tamanho e as necessidades:

- para o vinho,

- para o óleo com que se havia de untar o eixo dos carros,

- para o copo, pequeno copo onde em algumas casas se servia aos trabalhadores a aguardente do mata-bicho.

Cortava-se a ponta do corno para fazer um copinho que não levasse muito e que não partisse como os de vidro, pois era preciso poupar.

A ponta do corno não é oca, pelo que, parecendo grande, aquele copo não levava mais do que um bochecho de aguardente – um “bocheco”, como dizia o Catrino.

Acompanhado de dois ou três figos secos e vamos ao trabalho que são horas.

O raio da ponta do corno por onde todos bebiam era uma peça desprezada pela sua capacidade ridícula. – Olha lá, cuidado, não te engasgues.

E o sentimento ficou. Ainda hoje se cultiva.

Quando se quer manifestar falta de consideração por alguém, lá chega o dito abençoado: - Não mereces nem a ponta de um corno.

Fonte: Museu de Silgueiros  (texto editado e adaptado)

(*) Nota da Equipa: "Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma", frase célebre de Antoine-Laurent de Lavoisier, nascido em Paris, em 1743, e que pertencia à pequena nobreza. Foi o primeiro cientista a enunciar o princípio da conservação da matéria. Refutou a teoria flogística e participou na reforma da nomenclatura química.

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