O ovo de coser as meias
O ovo de coser as meias |
O calçado caraterístico
do povo português, no passado, era o pé-descalço.
A proteção dos
pés com botas, chancas, socos, abarcas, tamancos, galochas, nem sempre foi
possível.
As razões
económicas marcaram a vida; a falta de “posses” arredou o calçado.
Calcorreando
caminhos de montes e vales, sempre de pés nus, desde criança, determinaram a
criação de calçado natural de pele dura e resistente como sola de Alcanena.
Para quê,
então, as meias?
Usavam-nas as
pessoas de mais teres, que os pés mais “finos” as exigiam para uma vida feliz a
três: os pés, as meias e o calçado, poucas vezes com rastos de pau, muitas
vezes de borracha, mais ainda de sola; por cima, a pele, na flor ou no carnaz, para
se engraxar ou para ensebar.
As meias de
algodão ou de lã, segundo a estação do uso, iam apresentando mazelas,
especialmente, no sítio do dedo grande, do calcanhar ou de qualquer outro onde
um preguito a espreitar do calçado ia fazendo das suas, esburacando o tecido.
De acordo com o
ditado popular: remenda o teu pano e ele durará todo o ano; torna a remendar
e ele tornará a durar, as mulheres da casa – mães, tias, avós – nas horas
da sesta ou do serão, remendavam, cosiam as meias doentes para que uma nova
vida as lançasse numa outra lufa-lufa.
Para um
trabalho mais facilitado, mais rápido e, assim, mais produtivo alguém criou o
ovo de pau, feito no torno do carpinteiro ou do marceneiro, muito macio, para
bem cumprir a sua função.
O que constitui
a peça deste mês é mais sofisticado, exigindo artífice bem preparado: é oco e
no seu interior alberga um dispositivo onde se guarda linha de três cores
e, no fundo, a porta que fecha o ovo para uma apresentação perfeita.