ABC do Folclore – Manual de Iniciação (1)
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“Costumes Portuguezes: Na volta do trabalho”(Cliché do sr. Miguel Monteiro, de Vila Real) |
ABC do Folclore
Dizem-me que os
jovens a partir da idade escolar estão a perder o interesse pelo Folclore,
mesmo como espectadores.
É um facto,
sendo uma situação que tem de ser revertida, o que passa necessariamente pela
escola.
Concretamente
não sei o que motiva tal desinteresse, mas penso que tudo mudará quando lhes
for ensinado que o Folclore é a História dos nossos antepassados, quando as
suas vivências ainda não estavam adulteradas por usos e costumes que nada
tinham a ver com a sua maneira de ser e de estar.
No caso de
Montargil, os componentes do nosso grupo “representam” as vivências da nossa
gente aí pelos anos 20/30.
Claro que foi
feita uma investigação etno-cultural, partindo do princípio que anteriormente
as pessoas recebiam os “saberes” por via oral ou demonstração, fazendo depois
como ouviam e viam fazer.
Mas, nem sempre
ao mesmo tempo, mas ao ritmo do progresso que começou a impor-se, absorvendo as
vivências locais, mas é antes que isso aconteça que o folclore se fixa, não
mais e evoluindo pois deixaram de haver condições.
Como
compreenderão, é o investigador que vai ver onde essa fixação deve ser
considerada.
Características
Certo que há
muito que especificar em relação ao que aqui foi dito, o que iremos fazendo em
posteriores pequenos textos, para não lançar a confusão. Digamos no entanto, e
para já, que para ser “tradicional” um produto tem que ser em simultâneo:
1.- Popular: ser do gosto do povo… – ser da
sua predileção.
2.- O anonimato: claro que tudo teve um autor. Por exemplo, uma “música” foi feita por alguém, mas tocador após tocador, fazendo-o de “ouvido”, pois não tinha qualquer registo, com as alterações que involuntariamente foram sendo introduzidas, acabou por ser “despersonalizada”. E como na música, assim era em todos os outros factos.
3.- Tradicional: ter passado de geração em
geração por via oral e imitação. Fazia-se como se ouvia e via fazer.
4.- Ser universal: pertencer a uma comunidade
cultural significativa e não apenas a uma família ou pessoa, impondo-se como
marca local.
Acrescentemos
apenas que, já em 1878, o Folclore era reconhecido internacionalmente como
“saber tradicional, história não contada de um povo”, primeiro para se referir
às tradições, costumes e superstições das classes populares; posteriormente,
para designar toda a cultura nascida principalmente nessas classes.
Lino Mendes
Imagem: “Ilustração Portuguesa” – II Série, nº688 – 28 de Abril de 1919