Miguel Torga , no seu texto intitulado “ Reino Maravilhoso ”, e referindo-se a Camilo Castelo Branco (que viveu parte da sua adolescência nos concelhos de Vila Real e de Ribeira de pena), escreve o seguinte: « Que diz o senhor Varatojo!? O Camilo! O Camilo levou mas foi uma grande coça na Senhora da Azinheira, outra na Senhora da Saúde, outra na Senhora dos Remédios… Fazia-se fino! » Também na região de Trás-os-Montes e Alto Douro (o tal “ Reino Maravilhoso ” de Miguel Torga) há muitas e famosas Festas e Romarias Populares . É certo que cada um gosta mais (ou acha mais importante) esta ou aquela Romaria ou Festa Popular, pelo que as que vão ser aqui apresentadas são apenas algumas das que não nos podemos esquecer ao longo do ano: - As Festas em honra de S. Sebastião Todos os anos, no dia 20 de Janeiro , realizam-se, em diversas localidades dos concelhos de Boticas (por ex. em Alturas do Barroso , Cerdedo, Vila Grande – Dornelas e Viveiro - São Salvador do Viveiro) e de Mo...
«Puxando a rede» A Sabedoria Popular é o resultado de séculos, se não mesmo de milénios, de experiências e saberes adquiridos e transmitidos, quase sempre oralmente, de geração em geração. Prova disso mesmo são, por exemplo, os Provérbios, Adágios, Rifões, Ditados Populares e Anexins , que existem aos milhares, sobre diversos e variados temas e assuntos. Hoje vamos apresentar alguns Provérbios ou Ditados Populares sobre o mês de Fevereiro : » Ao Fevereiro e ao rapaz perdoa-se quanto faz, desde que o Fevereiro não seja varão, nem o rapaz ladrão. » Aveia de Fevereiro, enche o celeiro. » Bons dias em Janeiro vêm a pagar em Fevereiro. » Dia de S. Brás, a cegonha verás e, se não a vires, o Inverno vem atrás. » Em chegando o S. Brás (dia 3), verás o que o Inverno fez e o que o Inverno faz: se vai para diante ou se fica para trás. » Em dia de S. Matias (24) começam as enxertias. » Em Fevereiro chuva, em Agosto uva. » Em Fevereiro neve e frio, é de esperar ardor ...
Tal como dissemos no post anterior, vamos aqui fazer breve referências a algumas das Festas e Romarias que se realizam no Norte de Portugal , mas concretamente na antiga Província do Minho . No Minho, existem, em quase todos os concelhos, Festas e Romarias conhecidas um pouco por todo o país e algumas mesmo no estrangeiro. A “rainha” de todas elas é, sem dúvida, a Romaria da Senhora da Agonia , tendo o conde de Aurora afirmado, em 1929, que ela era «a Festa Nacional do Minho ». O culto da Senhora da Agonia, em Viana do Castelo , remonta ao século XVIII. A primeira referência escrita data de 1744, sendo de 1773 a tela votiva mais antiga. A capela onde está guardada a imagem domina o Campo da Agonia, coração dos festejos e local da realização da feira semanal (às Sextas-feiras). Em Monção , na Praça de Deuladeu, e após a procissão do Corpo de Deus, realiza-se a Festa da Coca : trata-se de uma representação da luta do Bem (um cavaleiro cristão) contra o Mal (um monstro ou dr...
Os mestres luthiers em Portugal desempenham um papel vital na criação e preservação dos cordofones tradicionais , instrumentos de cordas que são parte integrante da cultura musical do país. Estes instrumentos incluem a guitarra portuguesa, o cavaquinho, a viola braguesa, a viola campaniça , entre outros. Cada um destes cordofones tem uma história e uma sonoridade únicas, refletindo as tradições e as expressões culturais das diferentes regiões de Portugal. A Guitarra Portuguesa Talvez o mais icónico dos cordofones tradicionais portugueses, a guitarra portuguesa é inseparável do fado , o género musical que é património imaterial da humanidade pela UNESCO . Este instrumento, com as suas doze cordas, tem um som brilhante e melodioso que é essencial na execução do fado. Mestres luthiers como António Pinto Carvalho , da Casa Cardoso, e Gilberto Grácio , em Lisboa, são conhecidos pela construção de guitarras portuguesas que combinam tradição com inovação, respeitando os padrõe...
“(...) por « danças populares portuguesas » queremos designar as « danças populares portuguesas tradicionais », as quais englobam três categorias: as « danças folclóricas », as « danças populares propriamente ditas » e as « danças popularizadas ». Procurar determinar e designar as mais arcaicas danças populares portuguesas é, obviamente, estultícia, até porque é impossível fazê-lo. Dado que a dança é uma atividade e uma função tão velhas como a própria Humanidade, poderemos dizer que na Península Ibérica se baila desde que nela surgem seres humanos, autóctones ou vindos de qualquer outra região da Terra .” (1) Danças Tradicionais de Trás-os-Montes Vinte e cinco. Um dos «llaços» ou figuras da *Dança dos Paulitos. Começa por uma espécie de apelo do bombo, destinado a congregar os bailadores, os pauliteiros (em número de dezasseis), seguido da dança, executada instrumentalmente por gaita de foles, tamboril, bombo e castanholas, a que vem...
Os cordofones , instrumentos musicais que produzem som através da vibração de cordas tensionadas, têm uma presença marcante na cultura musical de Portugal. A diversidade e riqueza destes instrumentos refletem não só a história musical do país, mas também as influências culturais que moldaram as tradições musicais ao longo dos séculos. Neste texto, vamos falar que são os cordofones, as suas principais características, e faremos uma viagem pelas várias regiões de Portugal para conhecer os cordofones mais emblemáticos. O que são cordofones? Cordofones são uma categoria de instrumentos musicais em que o som é produzido pela vibração de uma ou mais cordas tensionadas, geralmente esticadas entre dois pontos. Estes instrumentos podem ser tocados de várias maneiras: dedilhando, friccionando, ou percutindo as cordas. A vibração das cordas é amplificada pelo corpo do instrumento, que pode ter diferentes formas e tamanhos, contribuindo para a variedade de timbres e sons que os cor...
A nona edição do Cordas World Music Festival , conhecido localmente como Festival Cordas , abre no Dia Mundial da Música, 1 de Outubro . O evento tem convite aberto a todos os tocadores de Viola da Terra do Pico , e outros instrumentos de cordas dedilhadas e friccionadas, para juntarem-se na Biblioteca Auditório da Madalena , e fazerem parte da homenagem ao grande músico açoriano Aníbal Raposo . " Aníbal Raposo faz parte da rede da MiratecArts desde a fundação da Associação ", admite o diretor artístico, Terry Costa. " Ainda não tínhamos proporcionado uma oportunidade para a participação deste, um dos maiores músicos regionais, que este ano celebra sete décadas de vida e está a aproximar-se de cinco décadas de carreira musical ." Desde o Teatro Universitário do Porto , na década de setenta, à RTP Açores, aos grupos musicais Construção , Rimanço e Albatroz e Alakandah , o seu trabalho chega às gerações mais novas que produzem novos arranjos das suas músi...
Pastora da Serra da Estrela com o seu cão "Serões", nº073 – 1911 A fixação oral do conceito popular, tanto sob a forma de ditado como a de provérbio é, pelo que respeita aos cães, uma das mais copiosas mostras do vigoroso sentido etnológico português. Na curanderia de todos os tempos, na demonologia da Idade Média , na simbologia arquitetónica de diferentes séculos, o cão ocupa um lugar tão especial que, imiscuído sempre vemos, em um conjunto de atos, funções e objetivos os mais extravagantes. E pode tanto atuar esta sobrevivência animista na tradição portuguesa que interessante observar é que, sendo o cão dos animais domésticos aquele que ao homem mais se afeiçoa, é, também o que lhe evoca a parcela mais sombria de mistério e de sobrenatural. Encaramo-lo em figuração, soerguendo como símbolo de constância as urnas tumbais; surpreendemo-lo nas gorgulhas alcandorando rictus legendários; vamos defrontá-lo nos processos da Inquisição travestindo o espírito maligno. E...
Desembarque de sargaço No cais de Caminha (Cliché Benoliel) "Ilustração Portuguesa", nº365 - 1913 Resultado de uma vivência diária atenta aos sinais da natureza e transmitida, oralmente, de geração em geração, a sabedoria popular surpreende-nos e encanta-nos em qualquer momento da nossa vida. Os provérbios, adágios, rifões, ditados populares e anexins , são bem uma prova disso. Hoje deixamos este post com alguns provérbios ou ditados populares sobre o mês de Março : »» Março, marçagão, manhã de Inverno, tarde de Verão. »» Vinho de Março, nem vai ao cabaço. »» Covas em Março e arrendas pelo S. João; todos o sabem, mas poucos as dão. »» Em Março, tanto durmo como faço. »» Março ventoso, Abril chuvoso, de bom comeal farão desastroso. »» Entre Março e Abril, há-de o cuco vir. »» Nasce a erva em Março, ainda que lhe deem com um maço. »» Água de Março é pior que nódoa no pano. »» Quem não poda até Março, vindima no regaço. »» Em Março, chove cada dia u...
Alguns dos últimos conteúdos disponibilizados no Portal do Folclore Português foram sobre o Artesanato do distrito de Vila Real : Tecelagem “ O Bragal ” – tecido de puro linho , nasce de um ciclo trabalhoso, a que ainda é possível assistir em alguns pontos do distrito de Vila Real. Entre Abril e Maio, a semente – a linhaça – é lançada à terra, cuja preparação para a receber exige inúmeros cuidados – vessada . São necessárias as regas certas e muito saber, não vá o tempo pregar alguma. (...) Olaria Olaria diz-se da arte de oleiro que é relativa a “panelas”, de barro. Para o povo transmontano, a Olaria passa, não só, pela componente decorativa, como também se afirma como utilitária, exprimindo-se em formas simples e funcionais. Faça-se especial destaque para a “ louça preta de Bisalhães ”, pertencente ao concelho de Vila Real, datando as primeiras peças de 1722. (...) Cestaria O cesteiro e o cesto são figuras habituais em qualquer contexto rural....